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''Eles não procuram ver a nossa realidade''


A coleta e reciclagem de lixo em Campina Grande é realizada por poucas entidades, dentre elas a Cata Mais (Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável de Campina Grande) procura manter-se com pouco ou nenhum apoio. Em uma visita noturna à sede localizada na rua Almeida Barreto, conversamos com o Secretário de Finanças do grupo, Guilherme Torres que nos falou sobre a cooperativa e também trabalhos de artesanato com materiais reciclados.

- -Como funciona a Cata Mais?
- Guilherme: Nosso trabalho baseia-se em na coleta de materiais, separá-los e vendê-los a indústrias. Aqui o material é separado e vendido por kg, para o atravessador, que nada mais é que alguém com um caminhão, que revende o material para alguma empresa. Nós ganhamos uma proporção de, por exemplo, vender o kg da garrafa pet a R$0,60, o atravessador vende a R$0,90 e depois de reciclado, moído sido realizada uma limpeza, o kg do pet chega a R$6,50 na indústria.

- -Em que consiste o seu trabalho?
- Guilherme: Minha função na cooperativa é estritamente burocrática, mas além disso eu faço artesanato com materiais que não são utilizados na venda para as indústrias. Utilizo materiais como fundo de garrafas pet, varetas de sombrinhas, palitos de picolé, antenas de TV, folhas de transparências, entre outros. Eu moro aqui e durante a noite, quando tenho tempo, realizo estes tipos de trabalho.
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- -São utilizadas máquinas no trabalho da cooperativa?
- Guilherme: Nós temos uma prensa que está parada, para a utilização da máquina são necessários 90 litros de óleo. Por falta de capital financeiro nós não a usamos.

- -A Cooperativa tem envolvimento em algum projeto social?
- Guilherme: Temos a intenção de fazer um trabalho com os filhos dos catadores, que além de ser educativo leva os garotos a lidarem com o material que seus pais trabalham.


Dois dias depois, voltamos à cooperativa sob a luz do dia e conversamos com o catador José Walter dos Santos sobre o dia-a-dia dos membros da Cata Mais e sobre alguns problemas enfrentados pelo grupo.

- -Como é realizado o trabalho diário dos catadores?
- José: Nós recolhemos materiais em casas, cada semana vamos em bairros diferentes, trazemos o material nos carrinhos, separamos, pesamos para serem vendidos depois.
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- -Quais são os materiais que vocês recolhem?
- José: Garrafa pet, papel, papelão, plástico, lata de óleo e de refrigerante, recipiente de xampu e de vinagre...

- -Qual a ligação da Cata Mais com o COTRAMARE (Unidade de Reciclagem de Materiais da Cooperativa de Trabalhadores em Materiais Recicláveis de Campina Grande)?
- José: Nós começamos como Cotramare, mas nos separamos por conta de desentendimentos, eles ficaram com o nome e levaram o moedor, com o trator e nós ficamos aqui com o nome de Cata Mais.

- -Vocês tem algum tipo de apoio?
- José: Quem nos apóia é a UEPB e o Governo do Estado, mas o Governo é mais no nome. A Universidade que nos deu os Carros-de-mão, eles iam nos ajudar com um moedor, mas nós não temos capital financeiro para utilização da máquina, então preferimos os carrinhos. O presidente da cooperativa – meu irmão José Wanderley - já foi na prefeitura atrás de apoio, mas não conseguiu falar com o prefeito. A prefeitura deveria nos apoiar, nós recolhemos grande parte do material que deveria ser trabalho deles e não temos nenhum apoio. Nós recolhemos o material para ser reciclado, o material que não é recolhido cai no meio ambiente, quando o lixo é aterrado produz o chorume que faz muito mal a natureza...

- Na época eleitoral que estamos vivendo, há alguma mudança no dia-a-dia da cooperativa? Receberam alguma visita ou promessas?
- José: Não, na TV os candidatos falam muito de lixo, catação, mas nenhum deles veio aqui. Eles não procuram ver a realidade que vivemos.

- Quantos catadores trabalham aqui?
- José: Ao todo são 23 catadores, mas atualmente só 11 trabalham aqui, os outros estão no lixão. Eles ainda não tem a mentalidade de reciclagem, a gente fez um curso de reciclagem com a professora Jussara Carneiro a UEPB e entendemos como separar, como moer, o tempo que o plástico demora para decompor...

- Você sofrem algum tipo de preconceito?
- José: Preconceito... Não, não sinto não. As pessoas nos recebem muito bem nas casas e nós também as tratamos bem. Tem até uma união do catador com a dona de casa. Quando a gente não passa em algum canto elas sentem nossa falta, no outro dia perguntam ''Cadê você que não veio aqui ontem?'' (Risos)

Sandro Vespa

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